Pensamentos e Conceitos que Impulsionaram o Trabalho


O Surrealismo Particionado

O espectador, à primeira instância, tem a sensação de que a pintura O Carnaval do Arlequim é de grande complexidade. Em um segundo contato, é possível observar que a obra consiste em inúmeros desenhos que alternam entre o mundo cotidiano e o onírico; Ou seja, que faz referência aos sonhos.
Buscando oferecer ao espectador uma análise simplificada, a instalação busca expressar a obra através da fração e tridimensionalidade.

Fração

 Fração, particionando o Carnaval do Arlequim em três partes. São elas:
  • Fração nº 1 – Um quarto, com uma mesa, uma escada e uma janela, que são referenciais do mundo cotidiano.
À esquerda, a obra de Miró destacando elementos do mundo real. À direita, o Trabalho. 
  • Fração nº 2 – Elementos oníricos: A música, o Arlequim e suas peripécias
À esquerda, a obra de Miró destacando elementos oníricos. À direita, o Trabalho. 
  • Fração nº 3 – Outros elementos oníricos: Insetos e bigodes
À esquerda, a obra de Miró destacando elementos oníricos. À direita, o Trabalho. 

Os objetos oníricos são fracionados, apenas. O propósito da instalação é fragmentar a obra e remeter ao espectador a possibilidade dele mesmo inferi-la conforme seu ponto de vista. 

Tridimensionalidade

Tridimensionalidade, através de elementos como:

Sucata: Peças de cubo-mágico, Grampos de cabelo, palito de dente, vidro de desinfetante.

















Chapa de Raio X
Papel Paraná
Isopor
Massa de Modelar

Os elementos acima elencados remetem a fase em que Miró criou obras de cerâmica e escultura, onde utilizava materiais surpreendentes, como a sucata.

Aos Olhos de Uma Criança


A proposta do grupo é propor ao espectador que enxergue as “frações” da instalação sob o olhar de uma criança. Um brinquedo que ultrapassa gerações e faz com que a criança enxergue o mundo da imaginação é o view master toys, que consiste em contar uma história segmentada em vários slides.

View Master Toys



O formato da instalação faz uma alusão ao brinquedo de visualizador de slides, propondo ao espectador que enxergue a arte sob o olhar de uma criança. 





O formato cilíndrico, uma alusão ao brinquedo

Imersão

Elementos para imersão do espectador: Trilha sonora e câmera escura. Ao Lado, instruções de uso.

Uma síntese da história do Arlequim



O Arlequim é um personagem da Commedia dell’Arte, movimento artístico criado na Itália em meados do século XV que tinha como principal ingrediente o improviso.
Imerso a uma trama repleta de sátira social, o Arlequim representa um serviçal envolvido em um triângulo amoroso: Pierrô ama Colombina, que ama Arlequim, que, por sua vez, também deseja Colombina. Para ênfase à sátira, entravam em cena muitos outros personagens, além dos três mais famosos.


Commedia Dell'Arte, Andre Rouillard

Assim, a história do trio enamorado sempre foi um autêntico entretenimento popular, de origem influenciada pelas brincadeiras de Carnaval.

No folclore, o Arlequim anda invisível ou bem escondido entre as pessoas nas ruas agitadas. Pode ser visto somente de relances pelos idosos, pelas damas novas e de boa educação e pelas crianças. Esses momentos tipicamente são quando o Arlequim está roubando pirulitos, balas, fumo, doces e coisas preciosas, para depois geralmente escondê-los das crianças. O Arlequim também pode ser visto de relance por uma dama quando o mesmo lhe rouba um beijo, travessura que causa ciúmes em Colombina, que acaba aprontando uma travessura com o Arlequim ou com a dama que foi beijada. O Arlequim não gosta de insetos, de homens que usem bigode e de autoridades policiais.

Movimento Artístico: Surrealismo


O Surrealismo foi um movimento artístico e literário idealizado pelo escritor e poeta e crítico francês André Breton (1896-1966) originário de Paris na década de 1920.
“Passarei a minha vida a provocar as confidências dos loucos. São pessoas de uma honestidade escrupulosa e cuja inocência só encontra um igual em mim.”
André Breton
André Breton

Este movimento constitui em uma sequência de atividades criativas fortemente influenciadas pelo pai da psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939), cujo objetivo é trazer à tona o inconsciente do autor em prol do ápice da criatividade de suas obras.
Os artistas ligados ao surrealismo, além de rejeitarem os valores ditados pela burguesia, criaram obras repletas de humor, sonhos, utopias e qualquer informação contrária à lógica.
Foi através da pintura que as ideias do surrealismo foram mais bem expressadas. Através da tela e da tinta o artista plástico coloca sua emoções, seu inconsciente e representa o mundo concreto.
A década de 1930 é conhecida como o período de expansão surrealista pelo mundo. Artistas, cineastas, dramaturgos e escritores do mundo todo assimilam as ideias e o estilo do surrealismo. Porém, no final da década de 1960 o grupo entra em crise e acaba se dissolvendo.

A infância e a iniciação no estudo das artes



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Família de Miró

Desde os tempos de infância em sua terra natal, Barcelona, Joan Miró i Ferrà externava seu fascínio às artes. O menino dito abobalhado entre os colegas de escola passava o tempo desenhando ou colecionando pedras e plantas.
Mesmo que a certo contragosto de seu pai, aos quatorze anos Miró ingressou na Escola de Belas Artes de Barcelona, porém insatisfeito com o currículo essencialmente acadêmico, o jovem deixou de freqüentar as aulas.
O pai de Miró convenceu-se de que o rapaz era um caso perdido. Obrigou-o então a se empregar como guarda-livros em uma drogaria e disse que o filho precisava começar a planejar seu próprio sustento. Resultado: A pressão e a rotina burocrática do trabalho levaram o jovem Miró a uma crise de depressão, que veio acompanhada de febre tifóide.
Foi durante o período de recuperação, numa fazenda da família em Montroig, nas montanhas da Catalunha, que Miró decidiu levar adiante, apesar das resistências paternas, o projeto de ser artista. Ao retornar a Barcelona, passou a freqüentar o ateliê e escola de arte de Francisco Gali, a partir dos quais passou a travar contato com o mundo artístico e boêmio da cidade. Apesar disso, seu comportamento arredio e introvertido nunca lhe permitiu acompanhar os colegas nas costumeiras incursões madrugada adentro.

 
Miró, 1906

A Mudança para Paris

Miró, 1908
 
Por volta dos 25 anos, em 1919, decidiu mudar-se para Paris, onde as vanguardas dominavam o cenário artístico e cultural. Instalado na capital francesa, o jovem entrou em contato com tendências modernistas como o fauvismo e dadaísmo.
Ainda na França, no início dos anos 20, Miró conhece o Surrealismo através de seu líder inconteste, André Breton (1896-1966), entre outros artistas Surrealistas. A exploração do inconsciente tocou o artista, levando-o a usar os princípios deste movimento durante toda a sua vida. "Ele foi o mais surrealista de todos nós". Esta foi a menção à Miró feita pelo escritor André Breton.
Em setembro de 1925 Miró participou da corrente artística que tinha o objetivo de revolucionar a experiência humana: A exposição em Paris, responsável por revelar o Surrealismo ao mundo.

O Carnaval do Arlequim

 
Carnaval de Arlequim, 1924-25

Esta importante fase da vida de Miró é marcada pelas obras: As pinturas O Carnaval de Arlequim, 1924-25, e Maternidade, 1924, pois inauguraram uma linguagem cujos símbolos de fantasia remetem a uma mescla de estilos: A arte naïf e o Surrealismo.

Materinidade, 1925
Naïf é a arte que é produzida por artistas sem preparação acadêmica na arte que executam, o que não implica que a qualidade das suas obras seja inferior. Caracteriza-se, em termos gerais, pela simplicidade e, por vezes, ausência de alguns elementos ditos característicos pelo academicismo.
Carnaval do Arlequim, a notável pintura de Miró – que revela inconfundivelmente seu estilo pessoal – consiste em inúmeros desenhos que exprimem uma espécie de autoanálise. Esta, por sua vez, foi obtida através de momentos de profunda concentração, abdicando inclusive de alimentar-se.
Mais tarde, ao recordar esse período de sua vida, em que alternava os verões em Montroig e os invernos em Paris, o próprio Miró diria que havia uma diferença básica entre eles e os colegas ligados ao surrealismo. Enquanto estes utilizavam substâncias artificiais para "abrirem livremente as portas da percepção", seu principal canal com o mundo da alucinação e do delírio era mesmo a fome. "Eu voltava tarde da noite para casa e, por falta de dinheiro, não jantava. Assim, rabiscava no papel as sensações que a fome provocava em meu organismo", revelaria. Sem conseguir vender um número suficiente de quadros que lhe permitisse uma vida apenas razoavelmente digna, Miró chegou a enfrentar o rigoroso inverno de 1925 tremendo de frio, pois não tinha recursos para sequer mandar consertar o aquecedor que estava quebrado.

 
Miró, 1925

Holanda

Um contrato com o negociante de quadros Jacques Viot tirou-lhe dos tempos de penúria extrema. Em 1928, Miró aproveitou os melhores ventos e viajou para a Holanda, em busca de novas fontes de inspiração. Nesta etapa da carreira, pintou Interiores holandeses I e Interiores holandeses II.

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Interiores Holandeses I

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Interiores Holandeses II

De volta ao Eixo Paris-Espanha


No ano seguinte, casou-se com Pilar Juncosa, que lhe daria a única filha, Dolores, e com quem passaria a morar em Paris e, posteriormente, na Espanha.

 
Joan Miró e Pilar Juncosa no dia de seu casamento, 1929

 
Miró, Sua esposa e Filha, 1941
Em 1937, trabalhou em pinturas-mural e, anos depois, em 1941, concebeu a sua mais conhecida e radiante obra: Números e constelações em amor com uma mulher.

Números e Constelações em Amor a uma Mulher

Conflitos


Joan Miró 
Joan Miró, 1933. Fotografia de David Lachapelle

O artista levava uma vida sossegada, dedicado integralmente à família e à arte, até o momento em que o fantasma da Guerra Civil Espanhola exigiu-lhe uma tomada de posição. Contrariado, Miró trocou novamente a Espanha pela França, mas participou ativamente da luta pela liberdade de seu país. Pintou cartazes de propaganda política e idealizou o painel "O Ceifeiro", que seria apresentado ao lado do célebre "Guernica", de Pablo Picasso, no pavilhão espanhol da Exposição Internacional de Paris.

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O Ceifeiro, Miró
Quando estourou a Segunda Guerra Mundial, Miró viu-se forçado a deixar novamente a França, em 1940, diante da iminência da ocupação nazista em Paris. Depois de uma temporada em Maiorca, retornou a Barcelona, em 1942. Nesse momento, o artista confessou por mais de uma vez que estava desiludido com os rumos da vida na Europa e temeu a vitória de Hitler. São desse período algumas de suas obras mais líricas e famosas, as que compõem a série "Constelações", composta por 23 obras, na qual parece conjurar céus inteiros para se sobrepor à fúria cega desencadeada pela guerra.

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Da série Constelações: L'Estel Matinal


 
Miró em seu estúdio em Passatge de Crèdit, 1942. Fotografia de Joaquim Gomis

 
Miró, Barcelona, 1944. Fotografia de Joaquim Gomis

Cerâmica e Escultura


Em 1944, iniciou-se em cerâmica e escultura. Em suas obras, principalmente nas esculturas, utiliza materiais surpreendentes, como a sucata.

 
Estrela de Duas Caras, 1956 - Grés i Ismalt

La caricia de un pájaro
A Carícia de Um Pássaro, 1967 - Bronze pintado

Estados Unidos


Miró e sua arte sobreviveram ao conflito e ganharam reconhecimento internacional definitivo nas décadas seguintes. Rumou pela primeira vez aos Estados Unidos.
Já nos anos seguintes; durante um período muito produtivo, trabalhou entre París e Barcelona.

A Maturidade


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Joan Miró, fotografia de Arnold Newman

No fim da sua vida reduziu os elementos de sua linguagem artística a pontos, linhas, alguns símbolos e reduziu a cor, passando a usar basicamente o branco e o preto, ficando esta ainda mais naïf.
O catalão nascido em 1893 morre aos 90 anos, no natal de 1983, rico e bem-sucedido, celebrado em todo mundo como um dos maiores artistas do século 20.

 
Oficina de Miró 
 

“Levei uma vida inteira para conseguir pintar como uma criança”
“Uma simples linha pintada com o pincel pode levar a Liberdade e a Felicidade”
Joan Miró